PREFÁCIO
Eu lhes apresento um
poeta. Apesar da profusão de poetas virtuais, de milhares de poemas que
versejam nas redes sociais, apresentar um poeta é de fato um caso raro,
especialmente em tempos de tanta aridez quanto a que vivemos na atualidade. Eis
que surge um homem que faz do poema um sentir-se a si em tudo que toca. E,
assim um poema se faz, construído com a matéria que lhe é peculiar e que, para
transcender ao real, precisa do suor na fronte como João Cabral de Melo Neto
por tantas vezes alertou aos que desejavam seguir por essa senda. E assim, um
verso rasga o universo, em sua constituição, podemos observar a leveza das
palavras que são milimetricamente conduzidas ao seu destino.
O ritmo desse poeta é
frenético, mas causou em mim o que deve ser esperado de um poeta magnífico, não
se trata de uma rima qualquer ou de um ritmo em senso comum. Acusa e ousa dizer
o que está por ser dito. Wildman é um poeta extenso na sua sincopada verve, no
seu verso contido, em sua grandeza estilhaçada, não faz concessões piegas, não
transforma o poema em um discurso vitimizado; ao contrário, faz emergir o que
há de sensato e concreto a partir do real que lhe toma de assalto. Esses poemas
que o leitor terá o prazer de ler, serão a aventura de uma trajetória que rompe
o silêncio da sabedoria, que atravessa, sobretudo, a incapacidade de dizer
tudo, mesmo que seja necessário dizê-lo em alto e bom tom. Em seus versos há um
apanhado da vida, em momentos sutis, em que a sabedoria transborda, contudo,
sem concessões, sem tergiversações que podem se tornar um momento iconoclasta
da existência. Ao ler, na calada da noite, estes versos como quem faz sangrar o
corpo em delírio idílico, leio assim “queimem-me/ queimem-me/ queimem-me os
ossos/ para não cultuarem/ a podridão/ do meu jazigo/ como um santo/ póstumo”,
e por isto não posso deixar de me inquietar com este poeta que rompe o
imobilismo das ruas e dos bares.
Direi então da concretude
desse poeta concreto, semiconcreto, autoconcreto, que faz da vida uma folha
para ser preenchida com o relâmpago do verso e do ritmo - poema que se desdobra
em diversos poetas, como Paulo Leminski, aquele que desejou num átimo capturar
a poesia universal. Assim é Wildman, um voluntário da palavra, um trôpego da
metáfora, que faz um rebuliço em minha mente, que me exorta deter-me em cada
poema como uma obra solitária, mas que ao fim e ao cabo percebo que se trata de
uma obra gigantesca, que fala e traduz um modo de ver o mundo, de pulsar este
mundo, que me faz pensar e não apenas delirar.
Atanásio Mykonios
Atanásio
Mykonios
Poeta
e Dramaturgo, Professor da UFVJM, Mestre em Filosofia Social e Doutorando em
Serviço Social pela UFRJ.