Mostrando postagens com marcador PREFÁCIO DE EFÍGIES. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador PREFÁCIO DE EFÍGIES. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 15 de abril de 2020

PREFÁCIO DE SOFI(A)SCO


PREFÁCIO

Eu lhes apresento um poeta. Apesar da profusão de poetas virtuais, de milhares de poemas que versejam nas redes sociais, apresentar um poeta é de fato um caso raro, especialmente em tempos de tanta aridez quanto a que vivemos na atualidade. Eis que surge um homem que faz do poema um sentir-se a si em tudo que toca. E, assim um poema se faz, construído com a matéria que lhe é peculiar e que, para transcender ao real, precisa do suor na fronte como João Cabral de Melo Neto por tantas vezes alertou aos que desejavam seguir por essa senda. E assim, um verso rasga o universo, em sua constituição, podemos observar a leveza das palavras que são milimetricamente conduzidas ao seu destino.
O ritmo desse poeta é frenético, mas causou em mim o que deve ser esperado de um poeta magnífico, não se trata de uma rima qualquer ou de um ritmo em senso comum. Acusa e ousa dizer o que está por ser dito. Wildman é um poeta extenso na sua sincopada verve, no seu verso contido, em sua grandeza estilhaçada, não faz concessões piegas, não transforma o poema em um discurso vitimizado; ao contrário, faz emergir o que há de sensato e concreto a partir do real que lhe toma de assalto. Esses poemas que o leitor terá o prazer de ler, serão a aventura de uma trajetória que rompe o silêncio da sabedoria, que atravessa, sobretudo, a incapacidade de dizer tudo, mesmo que seja necessário dizê-lo em alto e bom tom. Em seus versos há um apanhado da vida, em momentos sutis, em que a sabedoria transborda, contudo, sem concessões, sem tergiversações que podem se tornar um momento iconoclasta da existência. Ao ler, na calada da noite, estes versos como quem faz sangrar o corpo em delírio idílico, leio assim “queimem-me/ queimem-me/ queimem-me os ossos/ para não cultuarem/ a podridão/ do meu jazigo/ como um santo/ póstumo”, e por isto não posso deixar de me inquietar com este poeta que rompe o imobilismo das ruas e dos bares.
Direi então da concretude desse poeta concreto, semiconcreto, autoconcreto, que faz da vida uma folha para ser preenchida com o relâmpago do verso e do ritmo - poema que se desdobra em diversos poetas, como Paulo Leminski, aquele que desejou num átimo capturar a poesia universal. Assim é Wildman, um voluntário da palavra, um trôpego da metáfora, que faz um rebuliço em minha mente, que me exorta deter-me em cada poema como uma obra solitária, mas que ao fim e ao cabo percebo que se trata de uma obra gigantesca, que fala e traduz um modo de ver o mundo, de pulsar este mundo, que me faz pensar e não apenas delirar.
Atanásio Mykonios


Atanásio Mykonios
Poeta e Dramaturgo, Professor da UFVJM, Mestre em Filosofia Social e Doutorando em Serviço Social pela UFRJ.