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domingo, 2 de junho de 2013

O ousado que deu certo e gerou vida


Posfácio

O ousado que deu certo e gerou vida

A poesia é feita daqueles momentos, sons, rimas, cheiros, cores e gostos que marcaram a gente de alguma forma – e aí a forma pouco importa, mas foram capazes de despertar algum sentimento ou mesmo uma ideia. O artista, o poeta, o encantador de palavras sente-se compelido a reunir os fragmentos em uma sequência nem sempre lógica, nem sempre linear, nem sempre uníssona, para eternizar aquilo que nos perturbou a alma quer seja por alguns instantes.

Fato é que nem sempre escrever poesia é tocar a alma do espectador. Depois de ultrapassado o limiar que separa o mundo externo do interior (afinal, “a palavra mora fora do mundo”) e de ter passado pela morada da razão, a poesia ainda encontra a barreira do lar onde moram as emoções. Lá, nem todos entram, nem todos ficam. Mas há pessoas capazes de bater à porta desta morada, cujo dono pode até, no momento, ousar não abrir, mas se concede uma fresta, renderá, por fim, à abertura completa.

É isso que nos provoca a ler. E foi assim comigo, quando tive à altura dos olhos a obra Efígies, que chegou até a mim por intermédio de um amigo em comum, o literário Luiz Antônio Cardoso, que me desafiou a lê-la. O desafio, admito, foi mais prazeroso do que poderia supor. Com “tato profissional”, mas, sobretudo, com ousadia poética, passeando pelos temas da criação ao que provoca asco; abusando das formas – que importam? -, Wildman surpreende ao expor a palavra sem máscaras, sem pretexto, mas com significados. Basta ler – e tenha certeza de que você perderá bons e longos momentos nesta leitura – para se ver tentando decifrar cada poema.

Caminhei pelo livro como quem procura descobrir o que há por trás da máscara. Deslizei pela poesia visual como quem acompanha uma cena se desenrolar no palco (observando, buscando compreender e, por fim, deliciando-se). Cheguei ao final da leitura como quem volta ao início: preciso reler.

Muitas vezes me pego corrigindo palavras repetidas, frases sem rima, orações sem pontuação. Não raras vezes quero excluir os espaços em branco, preencher as linhas, aproveitar cada canto. Mas Wildman mostra que nem sempre é preciso fazer isso. As palavras quando bem repetidas têm seu propósito, cumprem sua função, compõem a melodia, assim como a ausência da rima provoca a mente a aceitar a forma.

Efígies – Poesia é uma entrega ao leitor que não quer mais saber do lugar-comum, que não quer apenas a rima pela rima e sua graça, que não quer mais o prato pronto sobre a mesa. Efígies – Poesia é um atentado necessário, na minha opinião, à mente que busca pelo que é criativo, experimental, inusitado, sem contudo deixar de ser poesia. É o que percebo que faz, e fez por vários anos, Wildman, que, nesta coletânea, entrega ao leitor seus rabiscos preciosos, ora em formato de texto, ora em textos escritos em outra língua, outras vezes em poesia concreta. Só alguém viajado, que saiu do Vale do Paraíba, para respirar outras paisagens, e se expressa em outro idioma, poderia fazer tal entrega.  A literatura, as artes, a vida precisa desta ousadia, quebrar com o preconceito de não poder ser livre a sua maneira.

É, sem dúvida, leitura a ser feita pela primeira vez e revisitada tantas quantas forem possíveis, pois em cada uma destas visitas a máscara revela um novo conceito e os “átomos de suas palavras me chegam”. “Cessam-se as falas”, revelam-se os enigmas, caem-se as máscaras. A alma, por fim, é tocada. É muito bom saber que um arquiteto de palavras do gabarito de Wildman ousa tornar mais uma vez público seus textos escritos em algum lugar, por aí, desta e daquela forma.
                                                           Letícia Martins

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Autora: Letícia Martins é jornalista formada pela Universidade de Taubaté (Unitau), pós-graduada em Gestão de Pessoas, autora do site www.primeirasimpressoes.net. Nascida em Taubaté, mora atualmente na capital paulista, onde escreve para revistas e atua como assessora de comunicação e revisora de livros. E-mail: leticia@primeirasimpressoes.net