PROÊMIO
Abrir os textos poéticos de Wildman dos Santos
Cestari com um proêmio é... um prêmio... a mim outorgado pela oportunidade de
captar o desvelo e cuidado que percebo nas suas composições e cantigas. É como
abrir temas etéreos expostos em versos distintos, em vocábulos elegantes e
simples, ora inocentes, ora incisivos e questionadores.
Comparo o livro BELÃO
BELÃO BLÃBLÃO a uma árvore frondosa, cuja copa se move libertariamente sob
as ventanias inspiradoras, mantendo, porém, a firmeza das raízes fincadas nas
técnicas de grandes mestres da Poesia, os quais estuda com dedicação e lhes
presta vênia ao seguir-lhes as famosas pegadas.
Wildman conhece, manipula, obedece à métrica de
versificação e seus rigores que, no entanto, não o engaiola, escraviza ou
limita sua criatividade.
Assim entendo o subtítulo Nomadismo Poético, na
antevisão do itinerário que as folhas, flores, frutos, ramos, gravetos e
sementes dessa árvore, provavelmente farão, alcançando novos horizontes nas
leituras atentas de alunos, de amigos e leitores que busquem uma obra muito
além do versilibrismo sob o qual a maioria dos poetas se acostumou a se
expressar.
Admiro-o junto
aos contemporâneos criadores do Breve, do Trevo, Poetrix, Minihaicai, aos quais
homenageia com seus transparentes talentos de versátil versejador. Um pouco de insatisfação e
desagrado com inevitáveis flagelos meteorológicos como a seca nordestina, são
enfocados com o vigor do jovem que acredita e anseia pela utopia do “tudo azul” e surge o alívio em forma do popular
cordel ou da trova lírica. Quando o assunto
se agrava
como em
“romance”:
Dessa intriga sem cuidado,
O Povo é que passava apertado:
Faminto e horrendo,
Pesteado e miserento.
o autor o ameniza nas
palavras da página seguinte com a “Ciranda” da qual brota a lógica insensata das
crianças a quem oferece a mágica das rimas:
Si
si si, ça ça ça
Si si si, ça
ça ça
Menina não
dança
Não sabe
beijar.
Menino não
beija
Não sabe
dançar.
que, consequentemente, vem
suavizar o fardo da nossa “sensatez adulta”, nos reconduzindo às lembranças das
antigas brincadeiras de roda. Ao se
tornar muito doce, virando outra página, as letras do Triverso gritam contra a
injustiça de um amor não correspondido, e os leitores veem um coração solitário...:
Eu não disse um ai.
Do nada, ela soube tudo.
Foi cinema mudo.
Coisas de poeta... coisas de
profeta, coisas de amor... coisas de dor... coisas de Wildman!
Desfrutem, saboreiem!
Lóla Prata