domingo, 12 de abril de 2020

PREFÁCIO DE BELÃO BELÃO BLÃBLÃO


                                              PROÊMIO


                 Abrir os textos poéticos de Wildman dos Santos Cestari com um proêmio é... um prêmio... a mim outorgado pela oportunidade de captar o desvelo e cuidado que percebo nas suas composições e cantigas. É como abrir temas etéreos expostos em versos distintos, em vocábulos elegantes e simples, ora inocentes, ora incisivos e questionadores. 
                 Comparo o livro BELÃO BELÃO BLÃBLÃO a uma árvore frondosa, cuja copa se move libertariamente sob as ventanias inspiradoras, mantendo, porém, a firmeza das raízes fincadas nas técnicas de grandes mestres da Poesia, os quais estuda com dedicação e lhes presta vênia ao seguir-lhes as famosas pegadas. 
                 Wildman conhece, manipula, obedece à métrica de versificação e seus rigores que, no entanto, não o engaiola, escraviza ou limita sua criatividade.  
                 Assim entendo o subtítulo Nomadismo Poético, na antevisão do itinerário que as folhas, flores, frutos, ramos, gravetos e sementes dessa árvore, provavelmente farão, alcançando novos horizontes nas leituras atentas de alunos, de amigos e leitores que busquem uma obra muito além do versilibrismo sob o qual a maioria dos poetas se acostumou a se expressar.
                 Admiro-o junto aos contemporâneos criadores do Breve, do Trevo, Poetrix, Minihaicai, aos quais homenageia com seus transparentes talentos de versátil versejador. Um pouco de insatisfação e desagrado com inevitáveis flagelos meteorológicos como a seca nordestina, são enfocados com o vigor do jovem que acredita e anseia pela utopia do “tudo   azul” e surge o alívio em forma do popular cordel ou da trova   lírica.  Quando   o   assunto   se    agrava    como   em “romance”:

Dessa intriga sem cuidado,
O Povo é que passava apertado:
Faminto e horrendo,
Pesteado e miserento.

o autor o ameniza nas palavras da página seguinte com a “Ciranda” da qual brota a lógica insensata das crianças a quem oferece a mágica das rimas:

     Si si si, ça ça ça
     Si si si, ça ça ça

Menina não dança
Não sabe beijar.     
Menino não beija
Não sabe dançar.

que, consequentemente, vem suavizar o fardo da nossa “sensatez adulta”, nos reconduzindo às lembranças das antigas brincadeiras de roda.  Ao se tornar muito doce, virando outra página, as letras do Triverso gritam contra a injustiça de um amor não correspondido, e os leitores veem um coração solitário...:

Eu não disse um ai.            
Do nada, ela soube tudo.    
Foi cinema mudo.
  
Coisas de poeta... coisas de profeta, coisas de amor... coisas de dor... coisas de Wildman!
Desfrutem, saboreiem!
Lóla Prata