romance
I
Ó de casa, ó de fora
Ola! Ola! Ouça agora!
Há muito tempo, sem memória,
Um grande reino, cujo reinado,
Era duplamente disputado:
Entre um rei ansioso de vitória
E um cardeal endiabrado.
II
Aquele majestoso na bondade,
Tudo fazia sem maldade.
Este via o mal por todo lado,
Quem com ele se metia,
Saía futricado.
III
Dessa intriga sem cuidado,
O Povo é que passava apertado:
Faminto e horrendo,
Pesteado e miserento.
Era tanto rato pela França e Paris
Se lá tivesse um Cristo-Redentor
Com horror, ele taparia o nariz.
IV
O descaso político estupendo,
O destino cada vez mais horrendo.
O povo vagando rabugento
Com a frase no pensamento:
Quem não cuida de seu quintal,
Age feito porco descomunal,
Cultivando seu próprio mal!
V
Para ver o circo pegar fogo,
Todo mal se fazia em rogo
Ambicioso do velho cardeal.
Este, com descomunal esforço,
Era carne de pescoço
Por querer ao povo grande mal.
VI
Sorrateiro como a serpente,
Desejando mais poder,
Agia disfarçado e sorridente,
Tudo fazendo pr’a ver:
O povo definhando,
Na guerra, amortalhado;
O rei degolado,
Destronado sem poder.
VII
Esse cardeal de tão avarento
Era um pé-de-pato futriquento
— Boizebu
dos diabos —
Lá dos anos mil e seiscentos...
Dava cabo até dos coitados
Dentro do prazo firmado
Com o Besta-Fera reluzento.
VIII
Nem tudo tava perdido,
O rei e o povo nunca desguarnecidos.
Quando as coisas ficavam pretas,
Com espadas e piruetas,
Como um enxame, os mosqueteiros:
Athos, Porthos, Aramis
Protetores de Paris e
D’Artagnam — o mais novo escudeiro,
Inflamados, no terreiro,
Davam cabos dos zombeteiros,
Sem deixar um só perneta,
Após seus gritos de trombeta:
“Um por todos, todos por um”.
WILDMAN CESTARI